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Um Mistério

por Hernani Heffner

 

A imprecisão do tempo foi bem maior do que manda a etiqueta com o leitor, e do que pede uma escrita regular. As contingências da vida são muitas e o vagar por entre trabalhos, estradas e devaneios pode se alongar quase tanto quanto o texto proustiano ou - mais próximo da paisagem valenciana - o roseano. O Vale do Jequitinhonha não é a Serra outrora ocupada pelos Puris, mas ambas hoje comungam de um certo vazio, uma certa erosão provocada pelo homem. No caso fluminense através do primeiro ouro negro, a ganância destruidora chamada café. A cafeína como combustível diário tem seu lado sofisticado, com direito a sommelier e tudo, afinal era o “vinho das arábias”, e dizem prevenir ataques cardíacos, mas o waste land que deixou para trás está indelével há quase um século.


Visitar Valença, ou o chamado Vale do Café, por conta desse passado pouco abanador aos olhos atuais pode encobrir os mundos posteriores que passaram pela região. Um deles é particularmente modernoso, citadino, tipicamente urbano-industrial, hoje quase tão extinto quanto os antigos cafeeiros. Me refiro à presença do cinema em alguns distritos valencianos, particularmente o de Conservatória. A pequena cidade abrigou residências imperiais, como a atual sede da Casa da Cultura, na rua Monsenhor Paschoal Librelotto, e salas de exibição. Em verdade oficialmente apenas uma, o Cine Ideal, que funcionou no salão paroquial da Igreja Matriz de Santo Antônio, localizada na atual Praça Getúlio Vargas. Era uma sala de exibição em bitola 16mm, padrão criado pela Kodak em 1923 como alternativa de segurança ao filme profissional cujo suporte em nitrato de celulose era autocombustível. Cópias em 16mm passaram a ser feitas dos filmes em 35mm depois da Segunda Guerra Mundial, constituindo um novo circuito comercial para o filme hollywoodiano e depois para os filmes brasileiros. Mais tarde seria o paraíso dos cineclubes e dos colecionadores. O Ideal foi criado nesse leva pós-guerra.


Mas como toda cidade do interior, Conservatória tem seus mistérios, um convite permanente ao viajante mais curioso. Ivo Raposo Junior, conhecido morador da cidade, colecionador de filmes e máquinas de projeção, guarda em seu Rancho Centímetro o que restou de um desses mistérios. São partes de um projetor francês do início do século XX que ele encontrou no Cine Ideal. Mais precisamente a cabeça de projeção e a lanterna para o iluminante (bastonetes de carvão basicamente), como podem ser vistos na foto ao fim do texto passado. O que fazia esse projetor na Igreja? Era o instrumento de trabalho de um exibidor itinerante que percorria o interior fluminense, de cidade em cidade? Será que ele parou em Conservatória, encantado com o bucolismo, o silêncio e o ar da Serra? Será que o pároco de então arquitetou um cinema a manivela para os fiéis? Não é possível saber a essa altura, mas alguma investigação talvez revelasse uma ou outra informação para compor o quebra-cabeça. Um convite aos viajantes que gostam de pousar por um tempo nas paragens da vida.

O projetor original era parecido com esse:

 

 

Foi com máquinas desse tipo que o público se encantou com o cinema em suas primeiras décadas de existência. O espectador via o projetor no meio do salão, acompanhava o projecionista manivelar o rolo único, com até dez minutos de duração, sem deixar variar a velocidade, e podia até ser atingido por alguns pingos d’água, atirados por alguns assistente na tela para ela fazer “brilhar” a imagem de algum trem chegando na estação. Pode ser mesmo que algum cineasta amador tenha feito isso na Estação de Conservatória, com a locomotiva estacionada ali perto e que serve para os selfies atuais. Ivo tem um 16mm anônimo de uma viagem de trem pela região, feito ali pelos anos 40. Quem sabe?

 

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